No podcast, Ana Frazão conversa com André Lara Resende, um dos principais economistas do país, considerado um dos pais do Plano Real e autor dos livros “Consenso e contrassenso. Por uma economia não dogmática” e “Camisa de força ideológica. A crise da macroeconomia”.
Na conversa, André explica por que foi se tornando mais crítico ao longo do tempo em relação a várias das posturas econômicas que, embora contrariadas por evidências, continuam a ser propagadas por muitos economistas e pela grande imprensa. O economista fala também sobre a animosidade que a sua postura crítica gerou entre seus amigos e colegas economistas.
O fio condutor da conversa são as razões pelas quais a macroeconomia tradicional está em crise e vem sendo utilizada de forma ideológica para conter artificialmente a ação do Estado e gastos públicos que seriam necessários para o país. Mostrando os impactos da moeda fiduciária e do papel do Banco Central para regular as taxas de juros, André mostra novas perspectivas para que possamos compreender o gasto público, a inflação e as taxas de juros.
Não obstante, o autor mostra que, ao contrário do que as evidências justificariam, macroeconomia neoclássica mantém-se intocada, razão pela qual se torna um verdadeiro garrote ideológico, na medida em que não possibilita distinguir entre gastos correntes e gastos de investimento e, com isso, impede que o Estado aja tanto em prol do interesse público como em prol do bom funcionamento do setor privado?
Para André, “sem um estado competente e responsável não há como pensar em desenvolvimento, agora com a obrigação de ser socialmente inclusivo e ambientalmente sustentável.” Consequentemente, a ideia de livres mercados é uma fantasia, o que exige que pensemos em relações mais adequadas e realistas entre Estado e mercados.
Outro ponto importante da conversa é a parte em que o autor critica o caráter científico, neutro e objetivo da teoria econômica e as tentativas de equipará-la a uma espécie de física social. Ao contrário, como contadores de histórias que são, os economistas também estão sujeitos a modismos e vieses. Daí avançar nas consequências da premissa de que “a teoria econômica é inevitavelmente ideológica. Suas histórias procuram ordenar a sociedade segundo valores e interesses não explícitos”.
Por fim, André Lara Resende ainda trata da necessária relação entre economia e política, explorando os impactos que teorias econômicas e suas aplicações podem ter para a democracia.